sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

SUSPIROS

Então o sol cobriu de a lâmina da faca de um tom dourado, quase dissolvendo o vermelho vivo da vida retirada.
Com o primeiro suspiro ela libertou de suas mãos a devoradora de vidas, que caiu no chão úmido com um som metálico.
Ao longe podia se ouvir as sirenes, um som quase imperceptível no início, mas aumentando pouco a pouco, como um animal que se aproxima lentamente de sua presa.
O segundo suspiro veio acompanhado de uma lágrima.
Uma brisa suave acariciava-lhe o rosto, um consolo tímido diante do horror. Suas pernas tremiam, seus olhos vidrados viam apenas fantasmas.
O terceiro suspiro anunciou o pranto.
O céu desabou numa chuva salgado sobre sua bochecha morena e quente, lavando o néctar da vida que seus dedos trêmulos não conseguiram retirar. O sol a observava, nada escapa de seu olhar fumegante. O calor em sua pele passou despercebido.
O quarto suspiro foi interrompido.
A voz da lâmina soava mais forte que todos os sons ao seu redor. A sede ferrenha do metal precisava ser saciada. Ela chamava seu nome.
Quando a polícia entrou no quarto encontrou dois corpos e uma lâmina assassina no chão.